sexta-feira, 13 de março de 2009

Passos Largos

A viagem foi longa até aqui. A infância foi um lugar solitário, habitado por fantasmas e monstros, onde o medo era o meu amigo imaginário. Nada pude fazer, apenas fui crescendo, criando defesas para sobreviver. Levantei muralhas de resistência, inventei um bunker onde me sentia segura, onde podia estar a salvo. Porém, os muros afastaram os monstros, mas também mantiveram as pessoas do lado de fora do meu mundo. Quando a adolescência chegou, a solidão do bunker tornou-se insuportável e a segurança deu lugar à angústia. Mesmo assim, o medo - meu único companheiro - me impedia de abandonar o bunker. Por muito tempo, preferi permanecer por ali, livre dos monstros e das pessoas. Até chegar o dia em que a angústia cresceu tanto que tomou todo o espaço do bunker. Era impossível respirar, era impossível fazer movimentos, não havia mais lugar nem para pensar. Então, eu decidi que queria finalmente sair daquele bunker. Só que eu tinha um grande problema: do mesmo jeito que as pessoas do lado de fora não podiam entrar, eu também não tinha forças nem habilidades para escalar o muro e sair. O esforço foi imenso, tentei escalar, tentei derrubar o muro, tentei gritar por socorro. Muitas vezes, desisti e pensei que não havia esperanças. Um dia, percebi um pequeno retângulo no muro. Ao examiná-lo, percebi que um tijolo tinha sido retirado. Talvez, aquele buraco estivesse ali o tempo todo, mas eu não tinha prestado atenção. O tijolo me fez perceber que as tentativas de sair dali de uma só vez não iriam dar certo, mas se eu tivesse determinação e persistência poderia ter uma chance. Era a única saída: retirar tijolo por tijolo. Já perdi as contas de quantos tijolos consegui mover, mas o muro é imenso. Não espero conseguir derrubar todas as barreiras do bunker, apenas quero abrir uma passagem por onde eu possa sair. Tijolo por tijolo.

Um comentário:

Anônimo disse...

texto lindo de viver...