segunda-feira, 30 de março de 2009

Nietzsche e Almofadas

Ultimamente tenho assistido muita televisão. A vida de freelancer oferece muito tempo livre e tenho me rendido à preguiça. A contradição é que o meu pacote-favela da NET tem pouquíssimas opções interessantes e ficar na frente da televisão virou uma fonte de ansiedade, daquele tipo que faz a gente ficar mudando obssessivamente de canal, mesmo depois de já ter decorado a programação inteira. No domingo, o lance estava tão crítico que comecei a apelar: comecei a assistir canais tipo TV Senado, Rede Vida, Discovery Kids, só pra ver qualquer coisa diferente. Foi assim que comecei a assistir o programa Café Filosófico da TV Cultura. Quando a gente está acostumada ao ritmo de vídeoclipe e ao apelo incandescente da publicidade, é difícil assistir a um programa onde se transmite uma palestra, com uma câmera fixa na palestrante e no mediador sentado ao lado dela. Ainda mais quando a palestra é sobre Niestzsche em pleno final de domingo. Por pura falta de opção, comecei a prestar atenção e, por incrível que pareça, fiquei muito interessada no assunto, assisti o programa até o final e ainda fiquei com vontade de ler alguma coisa sobre o filósofo. O que achei mais interessante foi a explicação da palestrante sobre como Nietzsche analisou e criticou a postura das religiões que defendem que a vida é um calvário que temos que suportar e que a felicidade só pode ser alcançada após a morte. É a negação do presente e do corpo, em benefício do futuro e do pensamento. Fiquei pensando que é um argumento que eu ainda não tinha anotado na minha lista de argumentos para explicar porque perdi a fé na Igreja e em Deus quando eu tinha 17 anos. Desde aquele tempo, eu já achava um tremendo absurdo passar a vida inteira seguindo regras e preceitos para merecer ir para o céu. Esperar pelo futuro, mesmo que o futuro seja amanhã, é abrir mão de viver. Cada vez mais tenho entendido o significado de viver o presente. Tenho esperado menos, idealizado menos, criticado menos. Com isso, tenho me frustrado menos, me decepcionado menos e magoado menos pessoas. Assim, o presente tem se tornado cada dia mais importante que o futuro. Achei bem engraçado ficar pensando nisso tudo, deitada no meio das almofadas do sofá, em pleno domingão. Quando a gente está bem consigo mesmo, dá pra fazer brotar flores de pedras. Dá pra achar o máximo ficar jogando baralho na casa de praia, porque tá despencando aquele aguaceiro lá fora. Dá pra bater um papo com a vizinha enquanto estão presas há mais de meia hora no elevador. Dá até pra aprender sobre Nietzsche pela televisão...

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