quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pé na Estrada


Tem horas que tenho a impressão de estar fora da realidade. Já li que isso é sintoma de depressão. Às vezes, sinto como se estivesse dentro de um sonho. É só o sentimento, porque sei que não estou sonhando, mas as coisas parecem estranhas e distantes. Aí, vem o medo de enlouquecer e o medo de ter um crise de pânico. Não sei dizer o que realmente estou sentindo, é algo que não consigo racionalizar, mas sinto uma inquietação parecida com angústia. Talvez algo esteja para acontecer, talvez seja a intuição novamente me mandando sinais. Mas, pode ser que não. Porque todas as vezes que senti que algo estava para acontecer, eu tinha certeza. Agora, não tenho certeza de nada.
Ontem, fui assistir “On the Road”. Eu não assistiria o filme por vontade própria, o cinema foi um pretexto para encontrar uma amiga. No fim, foi bacana ter visto o filme. O filme mesmo é ruim, mas lembrei muito de quando li o livro. Eu tinha uns 16 anos e o inconformismo fazia todo o sentido. Não querer fazer parte do sistema e não querer ter uma vida ordinária dentro dos padrões eram as minhas certezas. Olhava para o mundo sem lentes cor-de-rosa e via sempre uma sombra de pessimismo por trás de cada coisa. Nunca tive ideologia, não tinha uma identidade com nenhuma causa maior. Nunca fui de esquerda, sempre achei os hippies meio bobos e detestava coisas muito verdes. Feminismo sempre achei um machismo ao contrário. Assim como os beats, eu era extremamente individualista. Existencialista. Ainda sou. A diferença é que vinte anos se passaram e agora estou estudando 6h por dia todos os dias para conseguir passar num concurso público e ter uma vida comum. Será que isso é o amadurecimento? Quando temos 16 anos olhamos para as pessoas com mais de 40 e não entendemos porque elas são resignadas, porque aceitam viver apenas razoavelmente em vez de tentar viver o mais intensamente possível. Ainda não sei as repostas, mas é isso que está acontecendo. Não sei porque, mas o que mais quero hoje é achar um lugar no sistema, me encaixar no padrão para poder parar de lutar contra tudo. Não importa ser mais um na multidão, não importa se não estiver fazendo coisas incríveis todos os dias, não importa se não consegui realizar todos os meus sonhos. Eu só quero encontrar um pouco de paz, só quero não ter que resistir, contestar ou me defender. Quero simplesmente ir com a maré, sem pensar para onde estou indo. Isso é bom? Isso é ruim? Eu amadureci ou desisti?
Ainda me sinto especial, sei que mesmo se eu tiver um emprego público, fazendo trabalho burocrático, estável como um peixe dentro de um aquário, ainda serei um peixe roxo de bolinhas verdes. Tudo o que já vivi nunca me deixará ser uma pessoa comum. Mas, algo realmente mudou. Ainda não sei o que.