segunda-feira, 16 de março de 2009

Partida

Por que discutimos mais com pessoas da família do que com amigos? Por que choramos mais quando nosso pai ou nossa mãe nos magooam? Por que dói mais a indiferença deles do que qualquer outra coisa no mundo? É porque, bem ou mal, foram eles que nos ensinaram a andar, a falar, a brincar, a sentir e a pensar. Se eles nos dizem que somos maus, isso tira um pedaço do nosso coração, porque aprendemos que devemos acreditar no que nossos pais dizem. De tanto escutar que eu era má e que não merecia que alguém me amasse, eu saí de casa há mais de dez anos fechando a porta atrás de mim e jurando que nunca mais voltaria. Ficar sozinha trouxe longos períodos de sofrimento e incertezas, mas me deu a oportunidade de rever muitos dos meus valores. Pouco a pouco, eu acabei voltando. Hoje, depois de muitos anos, tive novamente motivos para chorar e para ficar magoada. Percebi que existem pessoas que não mudam, não aprendem com os próprios erros. Ao contrário, continuam magoando as pessoas com a sua intransigência e egoísmo. Eu gostaria que as outras pessoas tivessem mudado, assim como eu mudei, que tivessem procurado curar as feridas, por si mesmo e pelos outros. Mas, não foi assim. Pouca coisa mudou. O medo de admitir as fraquezas e, principalmente, a falta de amor e consideração, impede até mesmo que se enxergue alguém ao lado. Por isso, assim como há dez anos atrás, eu decidi que vou embora novamente. Vou continuar a viver a minha vida, sem esperar nada de ninguém. Já vivi muito tempo sozinha, não vai ser tão difícil. Não quero provar nada pra ninguém. Vingança e sofrimento alheio nunca me fizeram sentir melhor. Só não quero criar expectativas de um apoio e um amor que nunca virão. Tenho certeza que do outro lado, também esperam isso de mim: que eu não peça, que eu não exija, que eu não sinta falta do carinho e da atenção que eles não podem me dar. Pelo menos, não do jeito que eu gostaria de receber. Pra não criar mais conflito, não vou desaparecer, vou apenas manter a distância. Porque eles precisam ter a ilusão de que estamos todos juntos e felizes. Eu já cansei de ser a culpada nessa história. Então, estou saindo da história.

Um comentário:

Anônimo disse...

ai, ka, que dilema esse dos filhos! será que se tivermos filhos um dia seremos melhores do que nossos pais ou seremos o que todos os pais são? tô com medo...ei, qdo vc viaja? quer carona pra rodoviária? bjo