terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Natsumi

Por enquanto não esbarrei com nenhum descendente de japonês aqui no navio. Já faz quase um mês que estou embarcada e ainda tem gente que fica confuso: cara de japonesa, falando em português e bandeirinha do Brasil no uniforme. Algumas pessoas até acham que sou filipina, mas a grande maioria percebe que sou japonesa. É a primeira vez que eu sinto o peso da raça no meu dia-a-dia. É intrigante pensar que sou a única japonesa na tripulação inteira. Até agora não sofri nenhum tipo de preconceito, só tenho que agüentar as pessoas fazendo as piadinhas de sempre. É chato porque eu nem sou japonesa, nem nunca fui pro japão, nem falo japonês. Eu nem gosto de sashimi. Tem filipino que conhece muito mais o Japão do que eu, afinal é tudo lá pro mesmo lado. Meu name tag – o crachá que a gente usa até quando está de pijama – veio errado e trocaram meu sobrenome pelo meu segundo nome. Daí, muitas pessoas estão me chamando de Natsumi. Eu nunca usei esse nome, sempre achei muito comprido escrever meu nome inteiro, mas estou curtindo essa troca. Afinal, é assim que me sinto, sei que não sou a mesma pessoa a bordo. Nada melhor que um nome diferente pra usar dentro do navio.

Aquario

Estou começando a ficar carente aqui dentro do navio. Às vezes, sinto falta de alguém pra falar de sentimentos, sobre o sentido da vida, sobre a economia mundial, sobre física quântica. É difícil achar alguém com pensamentos em comum pra trocar uma idéia, com quem bater um papo mais cabeça. O maioria do povo aqui só pensa exclusivamente em beber e transar o tempo inteiro. É estranho. Aconteceu o terremoto no Haiti e não consegui conversar com ninguém sobre isso. Eu até tentei, mas me olharam como se eu tivesse algum problema. Poucos tem curiosidade de saber o que está acontecendo fora do navio. Às vezes, eu me sinto dentro de um aquário, sou um dos peixinhos que fica nadando em círculos em busca de comida, tendo que competir e se proteger dos outros peixinhos o tempo inteiro. A água não se mexe, o ambiente não muda, as plantinhas de plástico são lindas, mas não têm vida. Além de não poderem sair do aquário, os peixinhos nem têm consciência de que existe um mundo lá fora. Não acho isso ruim, nem acho que deveria ser diferente, só sinto falta mesmo de alguém pra conversar. Sou um peixinho que pensa demais.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Três Minutos

Tenho 3 minutos de internet super cara no Terminal de Santos pra escrever este post!
É o tempo de resumir o primeiro mês a bordo do Costa Mágica:

Too Fast, Too Furious!

Intenso!

Acabou o tempo!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

De vento em popa

A gente acostuma a ficar sonhando com a vida que queria ter e quando o sonho vira realidade acaba ficando até atordoado. Sempre sonhei com uma vida autêntica, com aventuras e desafios. A vida no navio é exatamente isso. É como estar dentro de um liquidificador, coisas ótimas e péssimas acontecendo ao mesmo tempo. Mas, acontecendo o tempo inteiro. São quinze dias a bordo e agora estou começando a aproveitar a viagem. O medo passou, a pressão diminuiu, a autoconfiança voltou ao normal. É difícil descrever o que estou vivendo, porque não existe nada parecido com o que eu possa comparar. Estou começando a ter uma rotina, coisa que é essencial para mim. Sem rotina, sem saber o que vou fazer no dia, me sinto perdida. Cada dia eu trabalho em um horário diferente e só fico sabendo o que vou fazer quando a loja fecha, sempre depois da meia-noite. Mas, as escalas se repetem e já estou criando hábitos. À noite, sem exceção, eu sempre trabalho. Não é sempre que fotografo, mas vendo na loja todos os dias, por pelo menos seis horas. Tem dias que não são pesados, como hoje que o navio está ancorado em Buenos Aires. Tive o dia inteiro livre e só trabalhei das 19h às 23h. Aproveitei para descer do navio, fui até a Rua Florida onde fica o comércio para turistas. A primeira coisa que fiz foi entrar no MacDonalds. A comida do navio não é ruim, mas é igualzinha comida de avião ou de astronauta. Preferi passear sozinha e dei uma volta nas lojas. Sentei em uma praça para fumar um cigarro e fiquei vendo o movimento da rua. Foi só então que realmente me senti uma estrangeira, fora do meu país, conhecendo um monte de coisas novas. É muito bom saber que agora essa é a minha vida, minha rotina, meu dia-a-dia. Comer um bigmac em Buenos Aires, tomar um sorvete em Punta Del Leste e tomar banho de sol em Porto Belo. Tem horas que nem acredito.