
Minha sobrinha vai fazer três anos e pediu uma guitarra de presente de aniversário para a mãe dela. Não é que o mundo mudou? Quando eu era criança, as meninas ganhavam bonecas. Fiquei filosofando que isso pode não ser só uma preferência por um brinquedo diferente, mas pode ser um indício de que os pais estejam finalmente parando de se projetar nos filhos. Dar bonecas de presente era uma forma de treinar a menina para o inexorável dia em que ela se tornasse mãe (claro, se fosse uma boneca-bebê, no caso de ser uma barbie já era um treino para ser bonita, sensual e consumista). Agora, quando a minha sobrinha pede uma guitarra, ela não está querendo simular a vida adulta, mas está pensando no prazer imediato de tirar um som e se divertir. Será que finalmente as próximas gerações vão conseguir viver o presente? Tomara que sim. Falando nisso, o meu presente também vai ser bom: vou dar uma boneca surfista com um bugue cor-de-rosa que vem com uma pranchinha de surf. Tudo bem que estou dando uma boneca e projetando o futuro, mas pelo menos ela vai se divertir e viver intensamente.